12 de Abril de 2024

PIX

Pix ganha terreno no comércio e na balança do PIB per capita

A avaliação foi feita pelo diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central (BC).
Getty Images
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Se há pouco mais de uma década os brasileiros eram quase obrigados a transacionar dinheiro entre os cinco maiores bancos, agora a situação é bem diferente. Fazer transferências e pagamentos de maneira digital, 24 horas por dia, sete dias por semana, seja para uma conta de 'bancão' ou de uma fintech é uma realidade consolidada. Só na última semana, foram realizadas 201,6 milhões transações via pix em um único dia. Por trás do número recorde, o meio de pagamento instantâneo começa a se consolidar numa nova frente de atuação: o pix que se popularizou em razão dos pagamentos entre pessoas, agora apresenta força nas transferências entre usuários e comerciantes.

A avaliação foi feita pelo diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central (BC), Renato Dias de Brito Gomes.

'Havia um 'gap' de transferências de pessoa para pessoa. O pix colocou os consumidores dentro da nova onda de pagamentos e criou um grande feito de rede no P2P (peer to peer). E agora vemos um crescimento gradual dos pagamentos de pessoas para comerciantes', disse em evento sobre pagamentos digitais e competição bancária organizado pela Zetta, associação que representa mais de 30 empresas de tecnologia que oferecem servic?os financeiros digitais, e a Mexico Exponencial.

Atualmente, o pix tem 161,9 milhões de usuários cadastrados, sendo 147,9 milhões de pessoas físicas e 14 milhões de pessoas jurídicas. A ampliação da transferência entre pessoas e comerciantes acontece, segundo o diretor do BC, através dos múltiplos usos do pix: seja no pagamento por QRcode ou com link copia e cola no uso de aplicativos nos celulares

Durante o evento da Zetta foi apresentado o estudo 'Sistemas de Pagamento Instantâneo e Competição por Depósitos', conduzido pelo pesquisador americano Sergey Sarkisyan, que demonstrou que a entrada de milhões de pessoas no sistema bancário via pix e a existência da ferramenta representa um depósito de 'bem-estar' de US$ 380 por trimestre, o que significa um aumento de 15% no Produto Interno Bruto (PIB) per capita do País.

Alguns fatores contribuíram para a adoção rápida e maciça do pix, que foi criado em novembro de 2020. A necessidade de digitalização trazida pela pandemia, assim como a identidade de marca única entre bancos, a uniformidade na experiência do usuário e a credibilidade atrelada ao Banco Central são alguns deles. 'A padronização ajuda a impulsionar o sistema de pagamento. Os clientes sabem que o produto oferecido é o mesmo em diferentes instituições. E é de graça. Isso fez o pix se tornar uma escolha natural', ressaltou Gomes.

Segundo o diretor do BC, o mecanismo também auxiliou a melhorar a competição ao tornar as vantagens dos grandes bancos, como uma rede grande de agências e caixas, menos importantes. “Consumidores atualmente têm uma possibilidade clara de escolher além dos bancos incumbentes”. A maior competição no sistema financeiro também foi acelerada por conta da Lei 12.865, que trata de arranjos de pagamento que passou a permitir que instituições como fintechs possibilitem ao cidadão realizar pagamentos independentemente de relacionamentos com bancos e outras instituições financeiras.

Ao comentar sobre como formas de pagamento semelhantes ao pix promovem a democratização bancária e estimulam a concorrência no setor, Othon Moreno, diretor-geral do Banco Central do México, acrescentou que as ferramentas de pagamento instantâneo permitem aos clientes selecionar a melhor maneira de pagamento, independente do tamanho do banco. Por outro lado, adesão precisa vir acompanhada de educação.

'Com esse tipo de pagamento, o usuário não precisa ir para outro banco para usar um serviço que lhe interessa. Está disponível em todas as instituições. Então, podemos dizer que os sistemas de pagamento instantâneo trouxeram muitas coisas boas, mas há mais pontos que devem ser pensados., como a proteção dos consumidores', disse ele. 'Devemos garantir que todas as funções existam para evitar ao máximoas fraudes e educar as pessoas a administrar bem as ferramentas, especialmente os mais velhos', pontuou.

Falando de maneira geral sobre tecnologias de pagamento para impulsionar a concorrência, Moreno ainda acrescentou que a introdução dessas inovações exigem um modelo regulatório muito bem pensado, processo que pode ou não ser conduzido pelos banco centrais. No caso do Brasil, do México e também dos Estados Unidos, os BCs estão a frente da regulação. Mas em alguns países da Europa e da África, essa regulação se dá via participantes do mercado. A visão foi compartilhada por Jon Frost, economista-chefe para as Américas no Banco de Compensações Internacionais (BIS).

'Há sistemas controlados pelo mercado que enfocam necessidades diversas dos usuários, como pagamentos e transações internacionais. Essa parceria publico-privada pode estimular a inovação e o financiamento digital no futuro', avaliou.
Fonte: Valor Investe