05 de Novembro de 2025
Mercado
Venda de carros usados bate recorde e culpa é do preço dos novos
Além dos valores mais salgados dos zero km, juros e liberação de crédito também restringiram as vendas, beneficiando o segmento de usados.
A Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) divulgou o balanço de 2024. Foram 15.777.594 carros usados comercializados – para quem não acompanha este mercado, um recorde.
Segundo Enilson Sales, presidente da instituição, “o crescimento e fortalecimento do setor foi apoiado pelo empenho da Fenauto em várias frentes de trabalho (...) Participamos ativamente em debates sobre crédito, interagimos decididamente junto ao on-line, marcamos presença nos principais fóruns do ambiente automotivo e nos posicionamos fortemente em assuntos nacionais como a reforma tributária, o Renave e o Marco Legal de Garantias. Por isso, nos sentimos orgulhosos por temos contribuído intensamente para promover este crescimento registrado em 2024.”
Em um ambiente mais restrito, Enilson comemorou: “Este número expressivo é o retrato de um trabalho mais profissional dos empresários do setor, da disponibilização de crédito e da maior confiança do consumidor'.
Interessante, contudo, é observar como ocorreu a distribuição destas vendas:
Seminovos entre 0 e 3 anos: 2.541.872 unidades;
Veículos de 4 a 8 anos: 3.982.867 unidades;
Veículos de 9 a 12 anos: 3.531.095 unidades;
Veículos com 13 anos ou mais: 5.721.760 de unidades.
Também importante entender os motivos que levaram ao recorde. Concedi entrevista para a TV Cultura e, lá, expus os seguintes fatores para este recorde: preço, juros e liberação de crédito restringindo o mercado de novos, bem como análise mais apurada sobre o veículo usado, passando pela depreciação e manutenção.
O principal ponto é, sem dúvidas, o elevado preço dos automóveis de passeio zero km para o padrão brasileiro. Apenas como referência, o tíquete médio em 2017 era pouco superior a R$ 72 mil e terminou 2024 na casa dos R$ 150 mil – mais que o dobro se considerarmos que a inflação no período ficou abaixo dos 50% (IPCA).
Em 2024 chegamos até a casa dos 14 mil dólares para os veículos novos de entrada e agora, com o dólar em alta, o valor retornou para a casa dos 12 mil dólares... Ainda alto para o padrão brasileiro, mas aceitável se tomarmos como base o que os produtos atualmente oferecem.
Outro fator preponderante diz respeito aos elevados juros no Brasil, que tiveram um novo ciclo de alta nos últimos meses sem qualquer perspectiva de baixa (provavelmente apenas em 2026). Atualmente, a taxa básica de juros (SELIC) está em 12,25%, com viés de alta. Isso é ruim para o brasileiro em geral, mas uma boa notícia para o mercado de usados. Isso porque os veículos têm menores preços e oferecem financiamento mais interessante, facilitando o processo de crédito e compra.
Outro ponto a ser considerado é a menor depreciação do usado em relação ao veículo novo. Justamente por isso, o consumidor mais consciente, que não pretende perder tanto dinheiro, ruma para o usado. Existe, contudo, o dever de observar a questão da manutenção para que o barato não saia caro. A recomendação é comprar carro com procedência e mínimas garantias além das legais e de preferência com algum especialista apoiando o processo.
Entre as opções, os seminovos em geral apresentam menor desgaste e ainda estão em período de garantia. Tal faz com que o consumidor seja capaz de escolher um veículo mais equipado com preços semelhantes aos dos veículos novos mais básicos – o que garante uma relação custo-benefício superior.
Fonte: autoesporte